quinta-feira, 12 de maio de 2011

A DUPLA SITUAÇÃO de Carlos Drummond de Andrade

Um silêncio tão perfeito
como o que baixou agora:
sinal que já morremos
ou nem chegamos ainda à Terra.

Acabamos de sentir a morte
nas veias substituir o sangue.
Circulamos na atmosfera,
somos, corpo e brisa, um só.

Ou flutuamos no possível
sem pressa de, sem desejo de
atingir o irretratável
movimento do nascimento.

Este silêncio tão completo
em si, em nós, em nossa volta,
converte-nos em transparente esfera
contemplada contemplativa.

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