sexta-feira, 4 de setembro de 2009

VERDADE de Carlos Drummond de Andrade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez


Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
Voltava igualmente com meio perfil
E os meios perfis não coincidiam


Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra


Chegou-se a discutir qual a metade mais bela
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar. Cada um optou conforme
Seu capricho, sua ilusão, sua miopia.



Corpo, novos poemas. Ed. Record, 1984 – RJ

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