domingo, 23 de agosto de 2009

Estou fascinada por esse artista, Valère Novarina. Destaco 1 trecho do livro Diante da palavra

"Eis que agora os homens trocam entre si palavras como se fossem ídolos invisíveis, forjando nelas apenas uma moeda: acabaremos um dia mudos de tanto comunicar; nos tornamos enfim iguais aos animais, pois os animais nunca falaram mas sempre comunicaram muito-muito bem. Só o mistério de falar nos separa deles. No final, nos tornaremos animais: domados pelas imagens, emburrecidos pela troca de tudo, regredidos a comedores do mundo e a matéria para a morte. O fim da história é sem fala.
À imagem mecânica e instrumental da linguagem que nos propõe o grande sistema de mercado que vem estender sua rede sobre nosso Ocidente desorientado, à religião das coisas, à hipnose do objeto, à idolatria, a esse tempo que parece ser condenado a ser apenas o tempo circular de uma venda perpétua, a esse tempo no qual o materialismo dialético, desmoronado, dá passagem ao materialismo absoluto oponho nossa descida em linguagem muda na noite da matéria de nosso corpo pelas palavras e a experiência singular que cada falante faz, cada falador daqui, de uma viagem na fala; oponho o saber que nós temos, que existe, bem no fundo de nós, não algo do qual seríamos proprietários ( nossa parcela individual, nossa identidade, a prisão do eu), mas uma abertura interior, uma passagem falada." P. 13

Tradução de Angela Leite Lopes
Ed. 7 letras

Nota da tradutora

"Este é o segundo livro de Valère Novarina, autor, pintor e homem de teatro francês, publicado pela Coleção dramaturgias. O leitor vai reconhecer o estilo do autor: como na poesia, o que importa é a sonoridade e o ritmo das palavras, que Valère Novarina utiliza para a construção de uma pensamento afiado sobre o estágio atual da nossa civilização. (...)"

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