sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Morte e Vida de Theodora Speranza de luliX pandaglia

Roma, 3 de outubro de 2008


Theodora caminhava pelas ruas de Roma quando se lembrou do filme de Fellini "O Sheik Branco" onde Vanda, a personagem principal, tenta se matar numa poça d'água. Triste e desiludida como Vanda, Theodora orquestra uma forma de se matar, mas com glamour, em grande estilo. Roma era o cenário ideal para essa mulher intensa, voluptuosa, sensual, bem humorada, dona de seios fartos e um coração que nunca coube em seu peito. Esse coração transbordava, atravessava as margens do seu corpo delgado, sinuoso e gostoso. Por onde passava deixava sua marca. Ninguém ficava indiferente aquela mulher, uns a adoravam e outros a detestavam, ela gostava disso. O que mais a apavorava era a indiferença. Ela nunca conseguiu ficar indiferente a nada, por isso, conquistou grandes afetos e desafetos.
A morte para ela significava o reencontro com os seus inúmeros mortos queridos e não o fim em si. As pessoas que mais a amaram e a compreenderam não habitavam mais o planeta terra. Ela sempre achou que não pertencia a esse mundo. Brincava com os amigos dizendo que era do planeta Vênus. Era uma Deusa Romana, Etrusca, Hindu, Árabe, Brasileira. Fogosa, amorosa, generosa e geniosa.
Acendeu um delicioso cigarro artesanal, sentou na Fontana Di Trevi e com uma moeda fez o seu pedido: "Solidão nunca mais ..." Olhou para o Céu, se redimensionou e disse: "meu Deus o que o Senhor deseja de mim? Por que me prendes ainda nesse planeta tão atrasado? Com seres tão obtusos? Que só pensam em grana e fama? No planeta terra os homens se matam por dinheiro, fazem guerras, alimentam uma indústria trilhardária, a bélica. Meu Deus me leve para junto dos meus amores partidos. Aonde eles habitam as pessoas não se matam, não morrem, evoluem, transformam-se. E os homens não tratam suas mulheres como se fossem objetos descartáveis. Não existe casamento, mas amores. A forma como os terráqueos tratam suas mulheres me causa náuseas, vontade de não ser. Gosto de ser quem eu sou e detesto ser descartada como se fosse um nada. Por isso tudo desisti e quero partir o mais rápido daqui. Quero ser abduzida." Esse foi o seu último pedido. Tomou um monte de comprimidos e mergulhou de madrugada na Fontana Di Trevi. Nadou, louvou, agradeceu ao Senhor e cantou pra subir. De repente luzes piscavam, sons estranhos ecoavam e vozes estranhas falavam algo que ela não entendia. Pensava: "Será que as naves chegaram? Me tirem daqui, help me please." Ligou seu ipod bem alto ao som de Last Dance, dançou pela última vez com o seu mais lindo vestido e apagou geral. Até hoje não encontraram o corpo de Theodora Speranza.

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