terça-feira, 2 de setembro de 2008

A revolução interior


A grande luta do homem é ele mesmo. Enquanto não entrarmos em contato com os nossos mais íntimos sentimentos, não olharmos de frente para nós mesmos, perguntando quem somos, para que viemos ao mundo, o que podemos fazer para transformar nossas vidas, nossos desejos, sonhos, anseios e ansiedades, não realizaremos a verdadeira revolução: a revolução interior.
Como mudar o mundo, se somos incapazes de nos transformar? As religiões, os partidos políticos, as instituições procuram dogmatizar a vida, esquecendo que o homem é um ser com infinitas possibilidades e que tudo está em movimento. Que nada é igual para sempre. “Prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...”
Desde sempre o homem é construção e destruição. E assim continua caminhando a humanidade, criando e recriando, se revelando a cada instante. Esse processo é inerente a vida, faz parte da evolução. Vida e morte, dentro e fora em constante interação. Precisamos aceitar e aprender a viver nossas contradições.
Na teologia da libertação, Leonardo Boff propõe uma democracia ecológico- social- cósmica. Onde o ser humano é parte da natureza e da bioesfera. E que “a lei que comandou o processo da constituição dos ecossistemas não foi a luta pela sobrevivência do mais forte, mas o imenso processo sinergético, baseado na colaboração e na solidariedade entre os seres.”
Me parece que ele não aceita a ambigüidade humana, suas inconscientes sutilezas e embates internos. Se não nos aceitarmos, como aceitar a vida e seu conjunto macro? Como se sentir integrado com o todo, se por dentro estamos despedaçados? Se não aprendermos a lidar e aceitar as coisas que não gostamos em nós e na vida, como a morte, a doença e a violência, continuaremos nos drogando com todas as formas de repressão: remédios, doutrinas, religiões, televisão para anestesiarmos o coração. E fingir que temos apenas bons sentimentos.
É o dentro e o fora se articulando sem parar. Nós é que separamos essas realidades, que parecem tão diferentes e no entanto, são a mesma. Todos nós abrigamos o bem e o mal. O que diferencia o ser humano dos outros seres vivos é a consciência, a criatividade, a ética e a forma com que ele irá articular e atribuir valor aos diversos aspectos de sua natureza interna e externa.
Aonde se ancora a ética? Ela se confunde com religião? Qual a diferença entre ética e religião? Refletindo sobre o assunto, procurei olhar a ética pelo ângulo da consciência e não da erudição.
A consciência do ser, cheio de possibilidades, que habita o planeta terra e faz parte de um todo maior. Inserido dentro do universo, vivendo o mistério da vida e da morte. Amando e odiando. Se lapidando ou não. Agarrando a oportunidade de estar vivo e interagindo com tudo. Aprendendo a cada instante. Procurando encontrar o sentido da própria existência e a harmonia entre os seres. Isso me parece ética.
Ter ética é ter princípios. Princípios esses que se originam na convivência, das relações do bem viver. Na confiança, no respeito, na liberdade, no limite. E não na moral, o pilar da religião.
Na ética você se responsabiliza pelos seus atos, na moral você se culpa e desculpa suas atitudes. Na ética existe o compromisso, na moral a obrigação. Na ética se vive as verdades, na moral você impõe uma verdade.
Ética é libertação, se fundamenta na consciência. Já a moral é prisão e sua base a escravidão.
Essas foram algumas considerações...

Rio de janeiro, 29 de junho de 2000 de Luciana Dau

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